quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sensores dos transmissores de pressão


Dando continuidade sobre medição de pressão, falarei um pouco sobre os sensores dos transmissores de pressão, a pressão é a variável mais utilizada em praticamente qualquer planta industrial, principalmente porque com ela se pode medir outras grandezas como nível, temperatura, vazão e até análises.

Com a necessidade de monitoramento e controle das variáveis de processo a transmissão de sinais se tornou algo fundamental e apresentou uma evolução fantástica da era pneumática a era digital, os inúmeros tipos de sensores de pressão são acoplados aos transmissores e os transmissores devem processar essa informação e modifica-lo para um padrão de comunicação.

O foco desse artigo serão os tipos de sensores dos transmissores de pressão eletrônicos.

Elementos do transmissor

O transmissor normalmente é um equipamento divido em dois, sendo o elemento sensor, que recebe o sinal de processo e modifica para o transmissor que envia o sinal padronizado para um sistema de controle ou monitoramento.

Os elementos do transmissor são:

Sensor

É um dispositivo que converte uma variável física, como a pressão, em uma quantidade analógica entre limites, geralmente mecânica por deslocamento ou elétrica (tensão, corrente ou resistência). O sensor está em contato com o processo e envia um sinal não padronizado e dependente do valor do processo.

O sensor pode ser também chamado de elemento primário, probe, detector e transdutor, sendo esse último também à denominação de qualquer dispositivo que converte um sinal de entrada em um sinal de saída de forma diferente.

Transmissor


Instrumento que processa o sinal do sensor e gera um sinal padronizado pneumático, eletrônico ou digital proporcional ao valor da variável. A entrada do transmissor não é padronizada (já que depende dos sinais do sensor) e sua saída é padrão de natureza igual ou distinta.

É desejável que a saída do transmissor seja linearmente proporcional a variável medida, mas nem sempre isso é possível, como no caso da medição de vazão por pressão diferencial.

Os sinais mais comuns analógicos normalmente estão em uma relação 5:1, sendo essa relação de proporcionalidade entre os valores máximo e mínimo respectivamente:

Relação 5:1 em sinais analógicos



Afinal, o que isso significa?

Pensando em um transmissor de pressão com faixa de trabalho de 0 a 15 bar e configurado de 0 a 10 bar com sinal de saída de 4 a 20 mA, qual a relação proporcional do sinal?

Apesar de o transmissor suportar uma pressão de 15 bar máximo, ele foi configurado com limite superior de 10 bar, portanto o 20 mA corresponde a 10 bar.
Trabalhando com função de transferência linear.

A norma que rege a padronização dos sinais eletrônicos é a ANSI/ISA-50.00.01-1975 (R2012), Compatibility of Analog Signals for Electronic Industrial Process Instruments.

Tipos de sensores disponíveis

Abaixo serão descritos alguns tipos de elementos sensores eletrônicos

  • Sensor por célula capacitiva

Esse sensor consiste na deformação das armaduras de um capacitor. Tal deformação altera o valor da capacitância total, que é medida e convertida por um circuito eletrônico. Devido a falta de linearidade inerente entre a capacitância e a distância das armaduras, devido a deformação não linear, a linearização é realizada pelo circuito eletrônico.

Ilustração retirada do artigo sobre pressão do Engº Cesar Cassiolato - Smar
Formas construtivas

O sensor é formado por:

  • Armaduras fixas metalizadas sobre um isolante de vidro fundido
  •  Armadura móvel (diafragma do sensor)
  •  Dielétrico formado pelo óleo de enchimento, sendo que o tipo de óleo depende da temperatura (fluído pode evaporar), pressão (principalmente em vácuo que altera o ponto de vaporização do fluído) isso pode prejudicar ou danificar a performance do transmissor e as características físicas e químicas do processo que em caso de vazamento evite contaminações no mesmo.


Podem-se encontrar boas informações sobre os tipos de fluído de enchimento e compatibilidade físico-química no link abaixo



A célula é dividida em duas câmaras (tomadas) a de alta (high – simbolizada pela letra H) e a de baixa (low – simbolizada pela letra L), uma diferença de pressão entre essas duas câmaras produz uma força no diafragma isolador, que é transmitida pelo líquido de enchimento (daí a importância dele). A força atinge a armadura flexível (diafragma sensor) provocando a sua deformação, alterando assim o valor original das capacitâncias formada pelas armaduras fixas e a armadura móvel. A alteração de capacitância é medida e condicionada pelo circuito eletrônico que era um sinal proporcional a variação da pressão aplicada à câmara da cápsula de pressão diferencial capacitiva.

Assim temos:

PH  e PL sendo as pressões aplicadas nas câmaras H e L.
CH = capacitância medida entre a placa fica do lado H e o diafragma sensor
CL = capacitância medida entre a placa fica do lado L e o diafragma sensor
d = distância entre as placas fixas de CH e CL
∆d = deflexão sofrida pelo diafragma sensor quando aplicada pressão diferencial PD = PH – PL

A capacitância é calculada por:



Onde:
C = capacitância (F) (Farad)
ε = constante dielétrica do meio existente entre as placas do capacitor (F/mm) que depende do material
d = distância entre as placas (mm)
A = área das placas do capacitor (mm²)

Se considerar CH e CL como capacitâncias de placas planas de mesma área e paralelas, quando tivermos PH maior de PL teremos:



Podemos admitir que a pressão diferencial (PD) é proporcional à variação da distância (∆d).

  • Sensor Strain-Gauge (célula de carga)

Está baseado no princípio de variação da resistência elétrica de um condutor, quando alterada suas dimensões (segunda Lei de Ohm).
Pela segunda lei de Ohm temos



Sendo:
R – Resistência do condutor (Ω)
ρ – Resistividade do material (Ω.mm ou Ω.mm²/m)
A – Área da secção transversal (mm²)
L – Comprimento do condutor (mm ou m)
A resistência do condutor é diretamente proporcional a resistividade do material e ao seu comprimento e inversamente proporcional a área da secção transversal.

E como poderemos alterar a resistência de um condutor com suas características definidas?



A maneira mais fácil de alterarmos as dimensões de um condutor é tracionando no sentido axial, conforme figura abaixo:



Para um comprimento L temos a variação de ∆L então para um comprimento 10xL teremos uma variação de 10x ∆L, ou seja, quanto maior o comprimento do fio, maior a resistência obtida e sensibilidade do sensor para uma mesma pressão (força) aplicada.

O sensor consiste de um fio firmemente colado sobre uma lâmina base, dobrando-se o mais compacto possível. Esta montagem denomina-se fita extensiométrica onde se observa que o fio, apesar de solidamente ligado à lâmina de base, precisa estar eletricamente isolado na mesma. Uma das extremidades da lâmina é fixada em um ponto de apoio rígido enquanto a outra será o ponto de aplicação da força. De acordo com a física sabemos que quando um material sofra uma flexão suas fibras internas são submetidas a dois tipos de deformação, ocasionadas pela tração e compressão. As fibras mais externas da lâmina sofrem um alongamento com a tração, pois pertencem ao perímetro de maior raio de curvatura, enquanto as fibras internas sofrem uma redução de comprimento que é o menor raio de curvatura.



Como o fio está ligado à lâmina ele também sofrerá um alongamento, acompanhado a superfície externa, variando sua resistência. Para aumentar a sensibilidade do sensor, pode-se utilizar uma configuração conforme a figura abaixo:



Com essa configuração, utilizando as quatro fitas extensiométicas, percebe-se que “cai como uma luva” a utilização de uma ponte de Wheatstone, que ainda possuí a vantagem de compensar as variações de temperatura ambiente, pois os elementos estão montados em um único bloco.

A saída do sinal do sensor normalmente é em mV.
  • Sensor por silício ressonante

O sensor consiste em uma cápsula de silício colocada estrategicamente em um diafragma, utilizando o diferencial de pressão para vibrar em maior ou menor intensidade, a fim de que essa frequência seja proporcional a pressão aplicada.



O sensor possui o sensor de silício e um imã permanente



Dois fatores influenciam a ressonância do sensor, além da pressão, o campo magnético do imã permanente posicionado sobre o sensor e o campo por uma corrente alternada.



A combinação do fator campo magnético e campo elétrico é responsável pela vibração do sensor. Um dos sensores ficará localizado ao centro do diafragma (FC) enquanto o outro terá sua disposição física mais à borda do diafragma (FR).



Por estarem localizadas em locais diferentes, porém no mesmo encapsulamento, uma sofrerá uma compressão e a outra tração, conforme a aplicação de pressão sentida pelo diafragma. Desta maneira, os sensores possuirão uma diferença de frequência entre si.

Esta diferença é sentida por um circuito eletrônico do transmissor e será proporcional a pressão diferencial aplicada.

Exemplo da proporcionalidade


  • Sensor piezoelétrico

Os elementos piezoelétricos são cristais, como o quartzo e a turmalina, que acumulam cargas elétricas em certas áreas da estrutura cristalina quando sofrem uma deformação física por ação de uma pressão. São elementos pequenos e de construção robusta.

O sensor piezoelétrico converte uma variável de processo medida em uma variação de carga eletrostática (Q) ou tensão (E) gerada por certos materiais quando mecanicamente estressados. O stress é tipicamente de forças de compressão ou tração ou por forças de torção exercida no cristal diretamente por um elemento sensor ou por um elo mecânico ligado ao elemento sensor. Seu sinal de resposta é linear com a variação de pressão. São capazes de fornecer sinais de altíssimas frequências (milhões de ciclos por segundo).

O efeito piezoelétrico é um fenômeno reversível. Se for conectado a um potencial elétrico resultará em uma correspondente alteração da forma cristalina. Este efeito é altamente estável e exato.


A carga devida à alteração da forma é gerada sem energia auxiliar, uma vez que o quartzo é um elemento transmissor ativo. Esta carga é conectada à entrada de um amplificador, sendo indicada ou convertida em um sinal de saída, para tratamento posterior na eletrônica do transmissor.

Entendendo os sensores fica mais fácil explicar os transmissores que será abordado posteriormente.
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